Presidente da Câmara de João Pessoa, Dinho tinha acordo com lideranças de facção, diz PF

O presidente da Câmara Municipal de João Pessoa, Dinho Dowsley (PSD), mantinha acordo com pessoas ligadas a uma facção criminosa para influenciar no resultado das eleições. É o que aponta a investigação da Polícia Federal que resultou no afastamento do vereador do cargo, nesta sexta-feira (18). Dinho foi o principal alvo da operação Livre Arbítrio.

Os crimes investigados pela operação são: constituição de organização criminosa, uso de violência para coagir o voto, ameaça, lavagem de dinheiro e peculato.

A reportagem teve acesso ao documento da investigação da PF que embasou a operação de sexta. Dinho negas as acusações e diz que está sendo vítima de “ilações maliciosas”.

As principais acusações contra Dinho dizem respeito à relação dele com Josevaldo Gomes da Silva e Pollyanna Monteiro Dantas dos Santos. Os dois também foram alvos da ação da PF, e já tinham sido investigados na operação Território Livre. Pollyana inclusive foi indiciada nesse caso.

Josevaldo, conselheiro tutelar que foi afastado do cargo, é pai de uma liderança do tráfico, e Pollyana é tratada pela PF como líder da facção “em nome de seu marido Kenny Rogeus, que está custodiado”. Kenny, mais conhecido como Poeta, também já tinha sido citado na Território Livre e foi alvo mais uma vez na Livre Arbítrio.

De acordo com a PF, no celular de Josevaldo, apreendido na Território Livre, foram identificados diversos indícios da aproximação entre ele e o vereador. Josevaldo estava, por exemplo, em um grupo de aplicativo de mensagens da coordenação de campanha de Dinho. E materiais encontrados reiteram o apoio de Josevaldo ao vereador.

A PF destacou que a eleição de Josevaldo também teve a participação da facção criminosa. E também aponta que Dinho o apoiou na disputa. “É uma relação mútua, ou seja, se Dinho teve o apoio de Josevaldo à sua candidatura, Josevaldo também teve o apoio direto de Dinho à sua candidatura a Conselheiro Tutelar”, disse a PF.

Já Pollyana, segundo a PF, atuaria coagindo eleitores, principalmente no Bairro São José, e também é suspeita de compra de votos a favor do vereador. Entre os pontos destacados pela PF, está um diálogo entre ela e um traficante preso, encontrado no celular dela.

O homem pergunta qual candidato o grupo está apoiando, pois pessoas da comunidade o teriam perguntando, e cita um nome de um vereador. Pollyana corrige o homem e diz que vai mandar a foto do candidato, e encaminha a foto de Dinho.

“O traficante encontra-se preso, ou seja, não vai votar. Em verdade, vai coagir os moradores da região controlada a votar no candidato apoiado pelo crime: Dinho”, disse a PF em um trecho do documento da investigação.

O documento da investigação destacou também que o apoio de Pollyana “é motivo de origulho” para Dinho. A investigação pontua que o vereador chegou a encaminhar à primeira-dama Lauremília Lucena foto de comparecimento no aniversário de Pollyanna no bairro São José. “Todos os elementos apontam que não se tratam somente à candidatura de vereador, como também à candidatura de prefeito”, afirmou a PF.

“O esquema criminoso consiste em um ciclo de influência mútua: durante as eleições, a facção garante o apoio eleitoral ao seu candidato preferido, que, após eleito, assegura a nomeação de pessoas ligadas à facção em cargos públicos”, afirmou a PF.

“Entre os elementos colhidos, destaca-se a cooptação de funcionários públicos e cargos comissionados na Prefeitura de João Pessoa, com indicações fraudulentas e promessas de gratificações indevidas, além de ameaças a eleitores e opositores políticos”, completou a polícia.

Pedido de prisão negado pela Justiça

Na decisão que determinou o cumprimento de uma série de medida cautelares, a juíza Mária de Fátima Lúcia Ramalho, da 64ª Zona Eleitoral, negou o pedido de prisão de Dinho.

Por outro lado, ela destacou que o afastamento dele era necessário por conta do risco de interferência no segundo turno das eleições municipais.

“Ficou provado que o acordo do vereador Dinho com a facção criminosa só foi possível porque o mesmo já era vereador, e mais, presidente do Poder Legislativo Municipal, aliado do Prefeito e candidato à reeleição, ou seja, podia dispor da administração pública para pagar sua parte do acordo. A continuidade no cargo público possibilita que o vereador, agora reeleito, exija da facção criminosa o cumprimento de sua parte no acordo quanto ao segundo turno das eleições”, disse a magistrada.

A versão de Dinho

O vereador Dinho Dowsley (PSD) afirmou em um vídeo divulgado na sexta-feira que está sendo alvo de “ilações maliciosas” e que a Polícia Federal e a Justiça foram “induzidas ao erro”.

O vereador, disse que está sendo alvo de suposições injustas e que “não encontra amparo no meu histórico de dedicação ao povo”.

“Tenho vinte anos de vida pública sem responder a nenhum processo e sempre fui eleito em decorrência do meu trabalho. As ilações, não tenho dúvidas, induziram a Polícia Federal e a Justiça ao erro. Já estamos recorrendo e não tenho dúvidas de que conseguiremos reverter esta decisão. Confio plenamente na Justiça e tenho absoluta certeza de que ficará evidenciado a nossa inocência, já que não há envolvimento do nosso mandato nos fatos investigados”, afirmou o vereador.

O presidente da câmara deverá cumprir sete medidas cautelares. Entre elas, estão a obrigatoriedade de usar tornozeleira eletrônica e a suspensão do exercício da função pública. O vereador afirmou no vídeo que vai recorrer da decisão.

Medidas cautelares contra Dinho

  • Obrigação de usar tornozeleira eletrônica
  • Proibição de frequentar o bairro São José e Alto do Mateus
  • Proibição de frequentar órgãos públicos ligados ao município de João Pessoa, em especial a prefeitura municipal de João Pessoa
  • Proibição de manter contato com os demais investigados
  • Proibição de ausentar-se da comarca de João Pessoa por mais de 8 dias sem comunicar ao Juízo
  • Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga das 20h às 6h
  • Suspensão do exercício da função pública

O que dizem os outros alvos da operação?

Procurada pelo g1, a defesa de Pollyana disse que recebeu “com surpresa e indignação” a notícia de mais uma busca e apreensão, e destacou que ela nega toda e qualquer acusação de que ela sejam integrante de organização criminosa que tenha contribuído para “a burla do processo eleitoral”.

A defesa de Josevaldo Gomes informou que reitera a sua inocência e reafirma a confiança na justiça. Deixou registrada que será cumprida todas as medidas cautelares e que vai discutir os excessos da operação no momento oportuno.

Também foi alvo Taciana Batista, que seria usada por Pollyana para exercer influência na comunidade. Ela é ligada ao centro comunitário Ateliê da Vida., e assim como Pollyana foi presa na Território Livre, mas agora está sendo monitorada por tornezeleira. A defesa de Taciana Batista disse que ainda aguarda acesso aos autos, mas que “acredita na inocência da constituinte” e que isso será provado no trâmite do processo.

Câmara notificada

Em nota, divulgada na tarde desta sexta-feira (18), a Mesa Diretora da Câmara de João Pessoa disse que foi notificada da decisão judicial que determinou o afastamento do presidente, e resolveu, “de forma colegiada, cumprir com a determinação”.

A Câmara ainda se colocou “à disposição da Justiça para o fornecimento de informações que venham a ser solicitadas”.

Com G1/PB

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