Lideranças do Partido Liberal (PL) anunciaram na tarde desta terça-feira, 2, que irão “pausar” as negociações da legenda com o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PSDB) para a disputa eleitoral no estado em 2026.
A declaração se dá poucos dias depois do desagravo feito pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em relação à aproximação da sigla com o tucano.
Após reunião de emergência convocada nesta terça pelo presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) — que tem atuado como espécie de porta-voz de Jair Bolsonaro –, o deputado André Fernandes (PL-CE), presidente estadual do PL, e o secretário-geral do partido, senador Rogério Marinho (PL-RN), falaram à imprensa. Valdemar e Michelle, que estavam na reunião a portas fechadas, não conversaram com jornalistas.
Segundo André Fernandes, que tem sido o principal articulador da aliança com Ciro Gomes no Ceará, a fim de desbancar o PT no estado, as conversas tinham sido conduzidas com o aval de Bolsonaro desde o segundo turno das eleições municipais de 2024. Fernandes afirmou, no entanto, que acatou decisão da cúpula do PL para “pausar”, por ora, as negociações.
“Estou aqui para dizer que faremos essa composição em conjunto. Acato a ordem do Diretório Nacional, do presidente Valdemar e do presidente Bolsonaro que, lá atrás, havia me autorizado a tentar essas articulações. Mas ao que tudo indica, pelo momento, vamos dar uma pausa, vamos repensar, vamos analisar um futuro melhor para o estado do Ceará. E agradeço a confiança de continuar à frente nessa articulação”, disse o deputado.
Flávio Bolsonaro elogiou o correligionário, a quem classificou como “a maior liderança do Ceará” e quem, segundo ele, conta com a “total confiança” do partido, e disse que o momento é de repensar a estratégia de alianças.
“O André, num gesto de total lealdade, ele foi caminhando nas conversas e agora a gente vai ter que parar pra pensar pra ver qual o projeto mais viável para derrotar o PT naquele estado. É uma coisa de momento, específica do estado, e agora a gente vai com cabeça fria, ouvindo o André, do projeto que seja mais forte”, disse o senador.
Em nota oficial, o PL Mulher, presidido por Michelle Bolsonaro, afirmou que a ex-primeira-dama e André Fernandes esclareceram as questões sobre o evento do final de semana, falaram da admiração que sentem um pelo outro e “alinharam os próximos passos”. O comunicado da ala feminina da legenda também reiterou que o parlamentar continuará encarregado de buscar uma “alternativa viável” no Ceará.
“Em função disso, as conversações que vinham sendo realizadas com o PSDB estadual estão suspensas. A estratégia a ser adotada pelo PL será definida após a análise e a aprovação, por parte da cúpula nacional e da presidência estadual do partido, das alternativas e projetos que serão apresentados pelo deputado André Fernandes”.
‘Ruído de comunicação’
Em uma sinalização de armistício interno, o senador Flávio Bolsonaro também afirmou que o tom da reunião da tarde desta terça-feira, 2, foi o de aparar o que classificou como “ruído de comunicação” entre Michelle, André Fernandes e demais nomes do partido. No último sábado, 29, a ex-primeira-dama desautorizou a articulação conduzida pelo deputado e tornou-se alvo de críticas do clã Bolsonaro — além de Flávio, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) foram às redes para criticar a atitude de Michelle, que, por sua vez, rebateu os enteados.
“Como pessoas adultas, maduras, e que querem o mesmo objetivo, que querem resgatar o Brasil das mãos do PT, ficou bem claro que o que a gente identifica foi um ruído de comunicação, com a Michelle falando com o coração, com a verdade que ela carrega em cada evento que ela vai (…) E, do outro lado, a nossa maior liderança do Ceará, o André Fernandes, que até surpreende pela maturidade e pela clareza como ele enxerga o jogo político como poucos”, disse Flávio.
“Todo mundo viu que teve um ruído de comunicação e todo mundo quis acertar. Conversamos, resolvemos e não vai acontecer novamente (…) Não tem divergência entre a gente”, concluiu o senador.
Disputas nos estados
Ainda segundo Flávio, as tratativas sobre alianças do PL em todos os estados do Brasil já vinham acontecendo “de forma preliminar”, mas acabaram vindo a público “de forma muito prematura” no Ceará. De acordo com o filho “Zero Um” de Bolsonaro, o partido seguirá atuando com “maturidade”, articulando conversas internas com aqueles que conhecem melhor cada realidade regional.
Como já anunciado por nomes do PL, uma das prioridades da legenda para 2026 é eleger o maior número possível de senadores, o que envolve, necessariamente, a construção de alianças para as disputas aos governos estaduais.
O secretário-geral da legenda, o senador Rogério Marinho (PL-RN), pontuou que o fato de Bolsonaro estar preso na Superintendência da Polícia Federal dificulta a construção e a articulação de alianças e que, por isso, a cúpula da legenda passará a verificar e ponderar quais as costuras já tecidas pelo ex-presidente.
“Hoje, o papel que o Flávio, o Valdemar, a própria Michelle, que nós estamos exercendo junto ao partido é de verificarmos quais que foram os compromissos firmados pelo presidente em cada estado, organizarmos esses palanques e, principalmente, guardarmos uma coerência do que somos e do que representamos para o Brasil”, disse Marinho.
Com Veja






