Empreendedor de Cabaceiras vende acessórios artesanais de couro de bode por até R$ 2,3 mil

Júnior Sousa, fundador do Atelier Jrs Couros, deu os primeiros passos com seu negócio no início dos anos 2000, quando Cabaceiras, na Paraíba, começou a se destacar como destino turístico com a criação do Festival do Bode Rei — evento que reúne exposições, feiras de artesanato, gastronomia e apresentações culturais. Ao notar a chegada de visitantes de todo o Brasil, ele enxergou uma oportunidade: transformar retalhos de couro de bode que seriam descartados em chaveiros artesanais.

As primeiras peças representavam símbolos da cultura nordestina: miniaturas de alpargatas, chapéus de vaqueiro, o chapéu de Lampião e pequenas bolsas que remetiam ao cangaço. ”O turista chegava e não saía de mãos vazias”, diz o empreendedor de 44 anos.

Ele trabalha ao lado da esposa e da filha de 13 anos, que participa quando não está na escola. A produção varia entre 30 e 40 peças por mês, todas feitas manualmente. Atualmente, o portfólio inclui bolsas, carteiras, mochilas, nécessaires, chapéus e coletes. Os preços mudam de acordo com o tipo de produto e o trabalho envolvido. Uma carteira custa a partir R$ 45, mas um colete, que leva uma semana para ser produzido, chega a R$ 2,3 mil

A vocação de Sousa não surgiu por acaso. Ele é a quinta geração de uma família que atua no mesmo segmento. O pai trabalhava com selaria e roupas, enquanto a mãe costurava roupas e peças de sela. “Minha mãe já ajudava a minha avó, que por sua vez já tinha aprendido com a mãe dela. Do lado do meu pai era a mesma coisa”, conta.

“Sempre gostei de observar. Ia a eventos, olhava as peças e voltava para o ateliê. Pegava papel, desenhava, cortava, fazia testes. Entre erros e acertos, fui me aperfeiçoando”, explica. Hoje, além de artesão, ele também é modelista e desenvolve sozinho os moldes de todas as criações.

A linha de coletes foi lançada há três meses, depois de pedidos de clientes. Intrigado com a demanda, Sousa fez uma pesquisa de mercado e decidiu produzir o primeiro modelo, oferecido como presente de aniversário a uma criança. “Quando publiquei, a procura foi enorme. Em três meses, já produzi 20”, relata. Segundo ele, o que chama a atenção é o acabamento: “Além de ser uma peça diferente, o pessoal se surpreende com a costura.”

Cerca de 80% das vendas são feitas pelo Instagram e pelo WhatsApp, que se tornaram o principal canal de contato com clientes de todo o Brasil. As feiras também desempenham papel importante, tanto para divulgar quanto para gerar novas encomendas. “Nos eventos, muitos não compram na hora, mas depois entram em contato”, explica.

Sousa participa de eventos em Cabaceiras, Campina Grande, João Pessoa, na Paraíba, e em Recife, capital de Pernambuco. O Festival do Bode Rei, em Cabaceiras, segue sendo um ponto de referência, assim como o Salão de Artesanato, que reúne expositores de toda a região.

O empreendedor diz que vende todos os tipos de produto igualmente. “Nunca faço só um modelo. Varia bastante e o estoque acaba por igual. Raramente sobra alguma peça”, diz Sousa, acrescentando que trabalha com couro caprino e bovino. “Se eu tiver só um tipo, acabo deixando de vender. Cada cliente tem sua preferência.”

Localizada na região do Cariri paraibano, Cabaceiras é conhecida como a “Roliúde Nordestina” por ter sido cenário de produções audiovisuais como o “O Auto da Compadecida” (2000). O município integra a região do Pacto do Novo Cariri, iniciativa voltada ao desenvolvimento econômico e turístico da área, que tem impulsionado o artesanato local e fortalecido a imagem da cidade como polo criativo e cultural.

Segundo Sousa, a iniciativa ajudou a dar mais visibilidade ao artesanato local e a atrair turistas. “O programa mostra o que muita gente nem imagina que existe aqui em Cabaceiras. Isso surpreende os visitantes, fortalece o turismo e abre espaço para que a gente consiga vender mais e crescer junto com a região”, afirma.

Ao contrário de muitos amigos que sonhavam em estudar fora e morar em cidades maiores, Sousa nunca teve o objetivo de deixar Cabaceiras. Desde cedo, ele diz que quis permanecer no município com a sua família e construir sua vida com a renda do artesanato.

Ele se mostra otimista com o crescimento. “Quero ampliar a produção, sem abrir mão da característica artesanal que define o negócio, e consolidar cada vez mais o nome do Atelier Jrs Couros no mercado nacional.”

* A jornalista viajou a convite do Sebrae-PB

Por Carina Brito/Revista pequenas empresas e grandes negócios

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