Como funcionavam os núcleos do Comando Vermelho na Paraíba, alvos de operação que prendeu 24 pessoas e bloqueou R$ 125 milhões

Uma operação prendeu 24 pessoas e bloqueou cerca de R$ 125 milhões da facção criminosa conhecida como Comando Vermelho na Paraíba. Conforme as investigações da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), essa organização que foi alvo da polícia é dividida em três núcleos: o de comando, lavagem de dinheiro e o setor que praticava os crimes.

A reportagem separou as principais informações sobre como funcionam esses núcleos, quem são os suspeitos e quais as atribuições deles dentro da facção criminosa.

Conforme a Polícia Civil, a facção tem ramificações principalmente em Cabedelo, Campina Grande e Bayeux e era uma dissidência de uma outra facção criminosa conhecida no estado, chamada “OKD”, que teve as chefias “cooptadas” pelo Comando Vermelho para atuar na Paraíba.

Núcleo gerencial do Comando Vermelho na Paraíba

O núcleo gerencial era formado por duas pessoas. O chefe da organização criminosa, Flávio de Lima Monteiro, mais conhecido como “Fatoka” e também a parente dele, Flávia Santos Lima, identificada como “braço direito” do chefe da organização.

Fatoka está foragido e não foi preso nessa operação da polícia. O setor de inteligência da Draco afirma que o suspeito está escondido no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Ele se tornou foragido após romper uma tornozeleira eletrônica em Alagoas, quando foi posto em liberdade pela Justiça.

A atuação de Flávia Santos, que está presa em uma penitenciária da Paraíba, acontece principalmente em Cabedelo, na ausência física de Fatoka no estado. Ela é responsável por “assegurar a execução das ordens de Fatoka e por inserir o grupo nas engrenagens políticas locais, garantindo a influência e a proteção”, de acordo com a polícia.

Em 19 de novembro de 2024, Flávia foi presa em uma operação que investigou a influência de grupos criminosos nas eleições de Cabedelo. Ela foi apontada pela Polícia Federal como funcionária fantasma vinculada ao Fundo Municipal de Saúde de Cabedelo, sendo a pessoa de confiança de Fatoka na cidade.

Flávia Santos Lima Monteiro, identificada como funcionária fantasma vinculada ao Fundo Municipal de Saúde de Cabedelo — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

Núcleo de lavagem de dinheiro

O núcleo é coordenado a partir do Rio de Janeiro. A ramificação utiliza empresas fantasmas e de fachada para movimentar volumes financeiros milionários, sem lastro em capacidade econômica declarada.

A chefe do núcleo de lavagem de dinheiro é Ariadna Thalia, conhecida como “Arroto de Urubu”. Ela ascendeu ao comando dessa parte do grupo criminoso, de acordo com a polícia, pela morte anterior de um contador da facção. A suspeita também está foragida no Complexo do Alemão, conforme as investigações.

Essa parte da facção criminosa também é composta por namoradas de suspeitos do núcleo operacional e por outros indivíduos que atuam como “laranjas conscientes” das empresas utilizadas para lavar dinheiro.

O núcleo de lavagem de dinheiro era subdividido por cidades, em Cabedelo e Campina Grande. Na ramificação para Cabedelo quem comandava era Sedryck Targino, que foi preso durante a operação na terça-feira. Em Campina Grande, o comando do subnúcleo era de responsabilidade de Carlos Eduardo, também preso durante a operação.

A atuação dos subnúcleos era basicamente voltada para a cooptação de laranjas para ser utilizados como fachada em empresas, além de movimentar quantias milionárias, o que a polícia aponta como um modus operandi para lavar dinheiro.

A Draco conseguiu identificar essas movimentações financeiras e como essas pessoas eram utilizadas para mascarar o dinheiro. O valor bloqueado durante a operação, inclusive, foi resultado desse monitoramente, conforme explicou Elton Vinagre, um dos delegados responsáveis, em entrevista coletiva.

“A gente conseguiu esse bloqueio de R$ 125 milhões. Vale salientar que a movimentação foi de cerca de 3 vezes mais. (Uso de) empresas de fachada, empresas fantasmas, que só existem no papel, laranjas. Foram várias mulheres presas, sete ou oito mulheres presas. São pessoas utilizadas muitas vezes, sem antecedentes criminais, mas são utilizadas como laranjas, como interpostas pessoas para lavar dinheiro do crime”, afirmou o delegado Helton Vinagre.

O delegado também explicou que os laranjas utilizados no esquema pelo núcleo de lavagem de dinheiro são parentes para blindar os principais suspeitos.

“Para se blindarem de investigação patrimonial, (os membros da facção) cooptavam pessoas, que são laranjas consecientes, eles sabiam dessa situação ilícita e emprestavam suas contas para que esse dinheiro ilícito circulasse”, afirmou.

Núcleo operacional da facção

O núcleo que operacionalizava tanto o tráfico de drogas e armas, os assassinatos e todos os outros crimes subjacentes a facção criminosa era atuante principalmente em Cabedelo. Os chefes, Fatoka, e também o “braço direito” dele, Flávia, monitoravam o núcleo do Rio de Janeiro utilizando, inclusive, câmeras de vigilância para monitorar o território e as forças de segurança.

Foram apontados como chefes do subnúcleo David Ferreira Costa, conhecido como “Mago David”, e também Samuel Lima, conhecido “Samuel Gordo”. Assim como Fatoka, ambos estão foragidos no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

Conforme as investigações, ambos eram responsáveis por colocar em prática atos de violência orquestrados pelo núcleo gerencial.

Chefe da organização já fugiu de presídio e é suspeito de interferir em eleições

O chefe da organização, Fatoka, participou de uma fuga em massa de presos da Penitenciária de Segurança Máxima Doutor Romeu Gonçalves de Abrantes, conhecida como PB1, em 2018. Ele foi um dos 92 presos que fugiram em uma rebelião que consistiu na utilização de explosivos para derrubar o portão principal.

Meses depois da fuga, Fatoka foi localizado em Alagoas e preso novamente. No entanto, após a prisão, houve o relaxamento do cumprimento da pena por parte da Justiça, isso porque ele foi posto em liberdade para cumprir medidas cautelares, com o uso de tornozeleira eletrônica. Conforme a Polícia Civil, ele rompeu a tornozeleira.

O suspeito também é investigado por ter apontado pessoas para ocupar cargos públicos. Quem comanda essas investigações é a Polícia Federal com apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco-PB).

Com G1/PB

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