
Os trejeitos, o sotaque e a vestimenta do povo sertanejo não raro são representados sob o viés caricato e risível no cinema, na TV e no teatro. Por isso, os declamadores Zelito Nunes (filho da cidade de Prata, no Cariri, e Eugênio Jerônimo, decidiram mudar essa perspectiva e explorar esses mesmos elementos de uma maneira que classificam como “sofisticada” no espetáculo Humor na feira, com apresentações no teatro Barreto Júnior, em Recife-PE, nos próximos dois sábados (16 e 23 de março), às 16h.
Montada a partir da colagem de vários textos autorais, a peça utiliza aspectos clássicos e contemporâneos da cultura do Sertão nordestino mesclados a situações cotidianas tanto da vida nas grandes cidades quanto no interior. “A nossa proposta é fugir desse humor fácil, preconceituoso e que não usa uma linguagem sofisticada, que se baseia em estereótipos e ridiculariza algumas camadas sociais. Saímos disso pra fazer o humor da raiz do Sertão nordestino baseado em tiradas interessantes e ditos inesperados”, conta Eugênio.
Vizinhos de estado, os artistas compartilharam das mesmas influências sertanejas durante a infância (Eugênio nasceu em Iguaracy, no Pajeú, e Zelito é de Monteiro, no Cariri paraibano) e visam como público-alvo o que chamam de “exilados do Sertão no Recife”. “Eu sou um deles e Zelito é outro. Embora tenhamos nascido em estados diferentes, pertencemos a uma mesma região cultural, que não obedece a essa dinâmica geográfica de fronteiras”, define. “Trazemos todos esses temas caros à cultura popular ao mesmo tempo em que damos uma atualizada porque não queremos fazer apenas uma reprodução”.
Uma das preocupações dos artistas no espetáculo, dirigido por Rogério Robalinho, é “dar tratamento estético com todos os recursos que a literatura permite”. O roteiro é baseado no livro Gramática do chover no Sertão, de Eugênio, que é mestre em linguística pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e divide os atos em temas específicos: velhos, doidos, notícias que circulam a partir de bodegas, o chamado Sertão profundo e, por fim, política, sempre com muito humor.
Com um percussionista e um violeiro no palco, a produção espera cativar o público pela memória. “A gente espera a identificação e o reconhecimento da tradição dessas pessoas que moram aqui no Recife, além das pessoas urbanas que têm gosto pelo Sertão e pelo trabalho que fazemos, sem deixar de ser popular, porém com refinamento”, conclui o declamador. Os ingressos custam R$ 50 e R$ 25 (meia) e estão disponíveis na bilheteria do teatro, no Recanto Sertanejo (Mercado da Madalena) e na Banca do Kéu (Parque da Jaqueira).
Com Diário de Pernambuco






