Brasil 2025: Tarifaço de Trump entra em vigor com país mergulhado em incerteza

Uma crise política do Brasil, que se transformou em guerra comercial dos Estados Unidos contra o país e que por sua vez intensificou a crise política por aqui. Poderia ser essa a narração em off do trailer de um filme chamado Brasil 2025. Mas não é. O tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros deixa o campo do debate das últimas semanas e se torna realidade nesta quarta-feira, 6. Desde a ameaça de Donald Trump, em julho, muita coisa aconteceu: a bolsa de valores por aqui caiu 4% em um mês, um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) foi implicado pela Lei Magnitsky e um ex-presidente da república, Jair Bolsonaro, está de tornozeleira e preso em sua casa de Brasília. Pior: a crise político-econômica não parece ter prazo para acabar.

Real também são os números. De acordo com a Amcham, que é a Câmara de Comércio para o Brasil, o impacto do tarifaço de 50% pesa sobre quase 57% dos 42,3 bilhões de dólares das exportações brasileiras para os Estados Unidos no ano passado. Assim, das quase 700 isenções, sobram produtos e setores importantes como o café e a carne. A Confederação Nacional da Indústria disse que a medida afeta diretamente 6,5 mil empresas americanas que dependem de produtos ‘Made in Brazil’. Os Estados brasileiros podem perder 19 bilhões de reais, segundo a mesma entidade e o impacto no emprego ainda é difícil de calcular, embora se saiba que o Brasil gera 24 mil postos de trabalho a cada 1 bilhão de reais exportado para os Estados Unidos.

O lance inicial de Trump

A guerra tarifária entre Brasil e Estados Unidos começou com uma jogada que parecia xeque-mate. As tarifas de 50% seriam aplicadas, entre outros fatores, pela perseguição do judiciário brasileiro ao ex-presidente Jair Bolsonaro no âmbito do inquérito que apura a tentativa de golpe ocorrida em 8 de janeiro de 2023.

O governo brasileiro se organizou como era possível sob a liderança do vice-presidente Geraldo Alckmin, que foi até o programa da Ana Maria Braga para explicar a situação. Uma comitiva de senadores embarcou para o país de Trump com a esperança de negociar, o Itamaraty também entrou no esforço de guerra. Enquanto isso, no Brasil, setores e empresas faziam os cálculos da tragédia.

A Embraer, por exemplo, indicou que o tarifaço era quase um embargo e que a fabricante de aviões sentiria o baque, não havia alternativa. A conta era a seguinte: a Embraer perderia 50 milhões de reais para cada avião vendido pela empresa, o que significaria um custo acumulado de 20 bilhões de reais até 2030. O anúncio oficial veio e a empresa escapou da tributação.

Nó no pescoço

Enquanto apertava o nó no pescoço brasileiro, Trump anunciava acordos comerciais. Os japoneses saíram da mesa de negociações com 15% de tarifa debaixo do braço, não mais os 25% iniciais. Foi a mesma tarifa obtida pelos europeus, que se livraram dos 30% originais.

Mas Trump manteve a tarifação ao Brasil na semana passada e ainda dobrou a pressão política ao incluir o ministro Alexandre de Moraes na Lei Magnitsky. O Judiciário reagiu e o STF disse que não recuaria na retomada dos trabalhos legislativos no segundo semestre. Não recuou, de fato, e o desfecho da crise, neste momento, é a determinação da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro. Brasília pega fogo. E agora a oposição obstrui Congresso e ameaça pautar a anistia que beneficiaria Bolsonaro.

Mercado financeiro é parte da equação

O mercado financeiro, parte importante da equação econômica, sentiu o baque. A bolsa de valores caiu mais de 4% em julho, interrompendo um semestre de altas consecutivas que levaram o Ibovespa a superar a marca histórica de 140 mil pontos. Pior. Em tempos de guerra comercial, o boato rola solto. E esse teria sido um dos motivos para a queda das ações do Banco do Brasil na semana passada. O papel caiu quase 7% porque também circulava nos bastidores, sem fundamento, que o banco poderia se opor à aplicação da Magnitsky.

E do lado da política monetária, o cenário instável deixa a visão de longo prazo borrada. Se havia qualquer expectativa de queda da taxa de juros neste ano, ela se perdeu no turbilhão. A Selic está em 15% ao ano e vai ficar assim até o fim do ano. Pode começar a ceder levemente no começo do próximo ano. Enquanto as empresas correram para mandar para os Estados Unidos tantos produtos quanto conseguem antes da tarifa, resta no horizonte um céu nublado, com perspectivas de novas tempestades.

Com Veja

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