Liderança petista do Cariri paraibano, ex-candidato a prefeito de Coxixola e historiador, Valmi Oliveira escreveu artigo fazendo algumas comparações do atual momento político vivido pelo país com alguns acontecimentos obscuros ocorridos na história da nossa nação. Valmi ainda defendeu a realização de novas eleições após as acusações contra o presidente Michel Temer (PMDB), feitas em delação premiada do empresário Joasley Batista.
Confira o artigo na íntegra:
A história se repete. Mas, chega de indiretas! Diretas já!
A memória política, pelo menos no Brasil, tende a ser em sua grande maioria relapsa e seletiva. Pois não recordamos com exatidão as atrocidades cometidas pelos nossos políticos do passado, quase sempre caímos no mesmo erro: defendemos aquilo que nos é imposto, mesmo sem conhecimento de causa. Para que essa liquidez dos fatos políticos se tornem sólidos em conhecimentos, só nos resta uma saída: mergulharmos em nosso passado histórico. Assim, não há como pensar na nossa atual conjuntura política sem voltarmos algumas páginas de nossa história.
Nos anos 1960, como em 2016, houve um bloqueio político do governo pelas forças conservadoras, que, somado aos erros do presidente João Goulart na condução da política econômica, levaram o país a uma crise econômica e ao desfecho golpe militar.
O ambiente era muito explosivo no contexto da Guerra Fria. A dicotomia entre o bloco Socialista defendido pela URSS e o bloco Capitalista encabeçado pelos EUA gerava tensão numa guerra que poderia explodir a qualquer momento. E explodiu, não de forma concreta, mas de modo simbólico, já que as demais nações do mundo tinha que abraçar um dos dois lados. É nesse cenário que, sendo o Brasil um aliado dos EUA, as propostas do governo Goulart não foram bem vistas pela elite brasileira, já que sua agenda reformista: previa reforma agrária, bancária e fiscal, que apontavam para uma distribuição de renda mais eficaz no país.
É nesse âmbito, que surge a proliferação do discurso de que uma ameaça Comunista tencionava dominar o Brasil. Esse discurso pensado pelos opositores de Goulart serviu como pano de fundo para que os militares pudessem por em prática suas medidas antidemocráticas. Em 2016, esse discurso ressurgiu nas manifestações a favor da saída da Presidente Dilma, o verde e amarelo da direita, buscava contrapor-se ao vermelho do PT.
Podemos observar que se hoje há um discurso antigovernista contra a esquerda, de natureza salvacionista, ou seja, de promover a entrada de um agente externo à política. Em 1964, o apelo era para salvacionismo militar, com o discurso de que o governo e, em especial, a esquerda era a responsável por todas as mazelas que afligiam a sociedade.
Em nossos dias atuais, vemos grande preocupação a emergência do discurso antipolítico, pois a própria política está sendo usada para reforçar a ideia de que o sistema está falido. Tal como em 1964, os políticos não prestam, então chamem os militares. Agora, até a oposição golpista foi expulsa das manifestações da direita. E quem são os salvadores da pátria? O juiz, ou os políticos que adotam uma posição de salvadores como o Jair Bolsonaro.
Correntes conservadoras brasileiras continuam a ter muita dificuldade de aceitar os resultados eleitorais que lhes foram desfavoráveis. Se voltarmos no tempo e na história política do Brasil recente, é muito semelhante com a crise de 1954, que culminou com o suicídio de Getúlio. Também ocorreu, em alguns aspectos, no golpe contra João Goulart e no quase golpe a Juscelino Kubitschek e na deposição (golpe) imposta a Dilma Rousseff.
E não podemos esquecer do papel preponderante da Imprensa no passado e na nossa atual conjuntura política. Os grandes jornais e televisões que atuaram a favor do movimento pela saída da presidente Dilma Rousseff, também em 1964, estiveram pressentes ao lado dos golpistas. Atualmente a Imprensa, principalmente televisiva, tem um papel muito mais relevante no atual cenário politico e social do Brasil, desde sua participação no incentivo do impeachment da Presidente até nos últimos fatos ocorridos, como as denuncias contra o atual Presidente Michel Temer. Nos anos de 1960 embora o rádio tenha feito esse papel, hoje a televisão é muito mais presente na vida dos brasileiros, de modo que, contestar as “verdades dos jornais” tende a ser cada vez mais difícil.
Uma peculiaridade que podemos observar na nossa atualidade, é que os militares não estão politizados como antigamente e não são uma força ativa. Hoje, eles foram substituídos por setores do poder Judiciário, como Sérgio Moro, setores do Ministério Público Federal e da Polícia Federal – e da grande mídia fazem o papel mais vigoroso que foi dos militares em 1964.
E para sair desse apagão democrático em que foram submetidos a partir de 1964, foi que em 1983 começa no Brasil o movimento das “diretas já”, um movimento de cunho político e popular que teve como objetivo a retomada das eleições diretas ao cargo de presidente da República no Brasil.
O movimento mobilizou milhões de pessoas em comícios e passeatas. Contou com a participação de partidos políticos, representantes da sociedade civil, artistas e intelectuais. Mesmo sendo marcado por significativo apelo popular, o processo de eleições diretas só ocorreu em 1989 restabelecendo a democracia brasileira e trazendo de volta a normalidade jurídica e constitucional.
Mas, diferente das diretas já do passado, é lamentável perceber que hoje é mais fácil acordarmos uma multidão contra um único partido, como se este fosse responsável por todos os problemas, do que levantarmos nosso povo, em socorro da nossa tão jovem democracia que está a adoecer.
Todo o lamaçal de golpes contra o povo e a democracia vem recentemente se repetindo no Brasil. A História se repete em seu passado mais obscuro. Resta saber, se o fato mais luminoso daquele período, que foi as Diretas já, vai se repetir também em nossa atualidade.
Valmi Oliveira
Historiador e Político