Conselheira Tutelar relata trajetória marcada por vulnerabilidade de homem morto após invadir jaula de leões em João Pessoa

A morte de Gerson, conhecido como “Vaqueiro Jó”, após invadir a jaula de uma leoa no Parque Arruda Câmara (Bica), em João Pessoa, no último domingo, ganhou novos contornos nesta segunda-feira. A conselheira tutelar responsável por acompanhar o jovem na adolescência divulgou uma carta detalhando um histórico marcado por extrema vulnerabilidade, traumas e transtornos mentais que, segundo ela, ajudam a compreender o comportamento que culminou na tragédia.

No relato, a conselheira descreve a relação de longa data com Gerson, a quem acompanhou desde os dez anos. Ela recorda episódios que evidenciaram impulsividade e comportamentos de risco, como a vez em que o adolescente tentou entrar clandestinamente na pista de pouso do Aeroporto Castro Pinto, sendo flagrado pela segurança após cortar a cerca de proteção.

“Quantas vezes você dizia que iria viajar para um safári na África para cuidar dos leões…”, escreveu. A profissional explicou que, à época do episódio no aeroporto, as câmeras mostraram que havia um adolescente tentando entrar na área restrita antes de qualquer tragédia acontecer. Gerson foi resgatado pela PRF e entregue ao Conselho Tutelar.

A carta também revela que Gerson havia sido destituído do poder familiar da mãe, diagnosticada com esquizofrenia, e não pôde ser adotado como seus quatro irmãos, já inseridos em outras famílias. Ele ficou sob os cuidados da rede de acolhimento institucional, que avaliou que o jovem não reunia condições emocionais adequadas para adoção, devido ao perfil e ao histórico traumático.

Segundo a conselheira, Gerson expressava o desejo de voltar a conviver com a mãe, apesar das dificuldades enfrentadas por ela. “Sua avó também tinha problemas mentais, mas a sociedade, sem conhecer sua história, preferiu te julgar pela última cena: você na jaula dos leões”, escreveu.

O relato humaniza o caso que ganhou grande repercussão nacional e reforça a complexidade das histórias de crianças e adolescentes acompanhados pela rede de proteção. A conselheira lamenta que a trajetória de sofrimento de Gerson tenha sido ignorada diante do choque causado pela morte.

As autoridades seguem investigando o ocorrido na Bica, mas o depoimento reforça que, por trás do ato impulsivo que terminou em tragédia, havia uma vida inteira marcada por abandono, transtornos, solidão e tentativas frustradas de encontrar pertencimento.

O caso reacende debates sobre saúde mental, assistência social e o acompanhamento contínuo de jovens que deixam instituições de acolhimento — muitos dos quais carregam feridas emocionais profundas e cicatrizes invisíveis que podem repercutir ao longo de toda a vida adulta.

Com Paraíba da Gente

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