Falta de equipamentos adequados prejudica esportistas e alunos na PB

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 A falta de equipamentos adequados para a prática de esportes prejudica o desenvolvimento de atletas e estudantes na Paraíba. O atraso na conclusão de um ginásio de esportes dentro de uma escola em Mari, na Zona da Mata, faz com que os estudantes tenham que fazer aulas práticas de educação física do lado de fora da escola. Já em Araruna, no Agreste, o atraso na construção de uma vila olímpica faz com que atletas tenham que procurar alternativas para treinar.

Para acompanhar de perto a situação de várias obras que estão inacabadas, abandonadas, ou em andamento, mas com atraso de muitos anos, o G1 viajou com uma equipe da TV Cabo Branco, percorrendo aproximadamente 3 mil quilômetros durante 11 dias. Foram visitadas 21 cidades, do Litoral ao Sertão, totalizando 34 obras, divididas nas categorias de educação, saúde, saneamento básico, pavimentação, casas e apoio e bem estar e serviços.

“Virou um sonho. Quando a direção falou que iam cobrir a quadra, a gente ficou feliz, principamente porque não ia mais ficar sem ter aula de educação física em dias de chuva. Veio a expectativa e todos os alunos ficaram eufóricos. Tinha uma quadra antiga no local, lá eram realizadas gincanas, campeonatos, festas em datas comemorativas, era bem útil. Mas aí em 2002 começou a reforma, fecharam o local e de lá pra cá ninguém mais conseguiu usar o espaço”, disse.

A construção da quadra de esportes da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio José Paulo de França, em Mari, começou em 2002, segundo os moradores. O consultor comercial Geandro de Farias, que hoje tem 27 anos, estudou no colégio e explica que tinha 14 anos quando a diretoria da escola anunciou a obra.

O G1 teve acesso ao colégio, mas a entrada da quadra estava fechada com um cadeado. Por fora, é possível ver que a obra está em um estágio avançado, mas a lateral da construção está tomada por mato. Os alunos da escola contaram como é a situação no local.

“Só pratiquei esporte aí uma vez, e mesmo assim foi só pra fazer uma gravação pra um projeto”, disse Dinart Douglas, que estuda na escola há oito anos. Mariana Costa, que estuda há dois anos no local, completa: “Dentro já tá quase pronto, o piso tá feito e tal, mas falta um monte de equipamento e por isso dizem que não podemos jogar aqui. Quando temos aulas práticas de educação física é lá fora, no terreno. Na escola mesmo só temos alongamento e aulas teóricas”.

A Superintendência de Obras do Plano de Desenvolvimento do Estado (Suplan) informou que as obras de recuperção da escola estão em andamento, e que apenas parou por um tempo pois o órgão aguardava a aprovação de um aditivo para concluir as instalações da quadra e outros detalhes na estrutura física. “Até o dia 30 de outubro, esta obra será finalizada e estará pronta para ser entregue à população”, explicou a superintendente da Suplan, Simone Guimarães.

Enquanto a data não chega, a esperança de Geandro, que estudou na escola da 5ª série do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio e não viu a conclusão da quadra, é de que o filho possa utilizar o local. “Tenho um filho de dois meses e fiquei imaginando ele crescer e, como eu, não ter a oportunidade de jogar nesta quadra. Espero muito que terminem, até porque aí já tem muito dinheiro desperdiçado”, concluiu.

Na cidade de Araruna, uma outra obra destinada para a prática de esportes, que é a vila olímpica, está paralisada desde 2013. A construção da vila começou em 2011 e em dois anos a construtora fez a terraplanagem, a drenagem do terreno e um muro. Depois disso, tudo parou.

O atleta Josenilson Farias Silva corre de três a quatro vezes por semana no local, que além do muro, tem apenas um terreno plano e de terra batida, e fala sobre as dificuldades que o atraso na conclusão traz para os esportistas. “Quando prometeram, a gente esperava que tivesse uma pista pra treinar, mas ainda não tem. Daí temos que treinar aqui mesmo, correndo o risco de se machucar, de pisar num buraco e cair, mas é o jeito. Não vou ficar sem correr”, explica.

Sem a vila olímpica concluída, o estudante Victor Amorim e os amigos dele têm que pagar para utilizar uma quadra para poder organizar as partidas de futebol. “Já que não temos a quadra da vila, temos que alugar uma particular para poder se divertir com os amigos”, diz. Toda segunda-feira eles desembolsam R$ 100 divididos entre todos os jogadores para pagar o local. “O futebol aqui é muito forte, temos muitos times. Mas falta esse incentivo, o que acaba atrapalhando o desenvolvimento. Até podem concluir lá (a vila), mas a nossa geração, este pessoal da minha idade, a gente nem tem mais esperança que vá terminar nos próximos três ou quatro anos. Agora vamos torcer pra que a próxima geração não tenha que quebrar os cofrinhos como a gente faz e poder usufruir de um benefício público”, comenta.

Segundo o secretário de Infraestrutura de Araruna, Hilton Farias Targino, do contrato de R$ 2,3 milhões, foram pagos R$ 398.601,39 pela construção existente. “A construtora teve dificuldades de terminar a obra e a prefeitura fez o cancelamento do contrato. O repasse que foi feito foi apenas do que chegou a ser construído”, explicou. A prefeitura informou neste sábado (17) que as obras no local já foram retomadas.

Lazer e bem-estar
Além das obras voltadas para a prática de esportes, a construção de alguns espaços destinados ao bem estar e lazer também estão incompletas em cidades da Paraíba. Em Mogeiro, no Agreste paraibano, uma praça que começou a ser feita no loteamento Maria Peixoto está parada há três anos. A obra, orçada em pouco mais de R$ 293 mil, fica exatamente ao lado de uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF), que também está parada. O espaço era uma lagoa, que chegou a ser aterrada e construído o alicerce da praça. Depois disso, a empresa recolheu o material e foi embora sem terminar.

“Aqui foi uma festa quando começou a fazer. Todo mundo se animou, acharam que ia ter um campinho pras crianças brincarem, espaço pra gente ficar descansando e tudo mais, mas depois todo mundo foi embora e ficou assim, abandonado. Está servindo apenas de pasto pros animais”, lamentou a dona de casa Maria Cavalcante, que mora perto do local e viu todo o processo de início da obra.

Segundo o secretário de Infraestrutura da cidade, Lenilson de Andrade Alves, do total da obra foram gastos R$ 87,5 mil, e quase 30% do projeto foi executado. A explicação, semelhante ao que aconteceu com a vila olímpica de Araruna, se deve ao fato de que a construtora desistiu do projeto. “A empresa, à época, alegou que não tinha como dar suporte para tocar a obra, pois dependia de repasses do Governo Federal. O que foi repassado, foi executado. Como atrasou o repasse, a empresa alegou prejuízo e parou de construir. Tivemos que realizar um distrato com ela”, explicou.

A solução para concluir o projeto, segundo o secretário, é fazer uma nova planilha de custos com os valores atualizados e em seguida uma nova licitação, para contratar outra empresa e dar sequência na construção. Lenilson explica ainda que a previsão é de que estas etapas sejam feitas em até 60 dias.

Museu e ponte
Na cidade de Cruz do Espírito Santo, na Zona da Mata, a construção de um prédio nas margens da PB-004 está parada há mais de três anos, segundo os moradores. O prédio do Museu da Cachaça começou a ser feito, a estrutura foi levantada e rebocada e o local também ganhou portas e janelas, mas o trabalho parou por aí.

“Rapaz, nem sei dizer o que é isso, mas sei que faz tempo. Quando vim morar aqui há três anos já estava deste mesmo jeito, parada. Já tava fechado, coberto, com porta e tudo, mas parada. Não sei explicar porque não terminaram”, disse a dona de casa Maria da Penha, que mora vizinho à construção.

O museu tem o objetivo de servir como atrativo turístico para o município, uma vez que a cidade se destaca na fabricação e comercialização de produtos derivados da cana-de-açúcar e faz parte de um pacote de obras realizadas em convênio com o Ministério do Turismo (MTur). O pacote, no valor de R$ 2.437.500,00 inclui também a pavimentação de algumas ruas, as construções do Mercado de Artesanato e de uma ponte que facilita o escoamento dos produtos.

De acordo com os dados do Portal da Transparêcia, o convênio foi firmado em 2008 e as obras eram para ter sido concluídas em 2013. Porém, até agosto de 2015, nem o museu nem a ponte haviam sido concluídas, mesmo depois da liberação de quase metade do valor, por parte do MTur. No caso da ponte, apenas a base da estrutura foi feita, mas os moradores do sítio Jacques continham utilizando uma ponte antiga que existe no local para poder atravessar um rio. Só que a estrutura antiga apresenta sinais de que pode ruir a qualquer momento.

Segundo a prefeitura, as obras são feitas com 97% dos recursos oriundos do Governo Federal, e que o atraso na conclusão de algumas obras e outras estarem andando em ritmo lento se deve a demora no pagamento das parcelas. Uma das construtoras pediu o cancelamento do contrato e outra empresa foi contratada para terminar, e isso teria causado o atraso em algumas obras.

G1

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